Uma cena que chamou a atenção há alguns anos: os ultras do Partizan, da
Sérvia, ganharam os noticiários com o vídeo de seu líder “Kimi” invadindo o
campo para retirar a braçadeira do capitão do time após a eliminação do clube
sérvio para o Ludogorets Razgrad (BUL), ainda na terceira eliminatória da Liga
dos Campeões da Europa:
Reconhecidamente fervorosos, os torcedores sérvios contam com uma
particularidade dentro dos estádios: a explosiva junção da paixão ligada ao
futebol com a paixão ligada ao forte sentimento nacionalista. Dentro desse contexto,
o Partizan foi ofuscado em parte de sua história pela superioridade e maior
reconhecimento do rival Estrela Vermelha. A paixão e violência dos ultras do
arquirrival, fortemente ligados ao processo de desmembramento da antiga
Iugoslávia, tornaram-se ainda mais conhecidas com a publicação do livro “Como o
Futebol Explica o Mundo”, do jornalista norte-americano Franklin Foer.
A fama do Estrela Vermelha ofuscou parte do fanatismo dos ultras do
Partizan, mas o clássico entre ambos, chamado de “Derby Eterno”, ainda
exemplifica bem a devoção dos ultras alvinegros de Belgrado, famosos pelo
fanatismo e pela violência contra torcidas adversárias. Segundo clube mais
popular da Sérvia, o Partizan possui um grande número de torcedores também em
Montenegro, Bósnia e Croácia, além de outros países europeus com número
significativo de sérvios.
Torcida
Em geral, os ultras do Partizan são chamados de Grobari Jug, ou Coveiros
da Sul. O apelido é uma junção da alcunha dada pelos rivais graças à semelhança
do nome da rua onde se localizam os torcedores do clube antes das partidas no
estádio Partizan à palavra enterro, que de forma pejorativa passou a ser
adotada pelos torcedores, e o setor onde tradicionalmente os ultras ficam
concentrados no estádio.
É importante ressaltar, entretanto, que os ultras não compõem uma única
organização, sendo agrupados em três principais frentes atualmente: Juzni Front, Grobari
1970 e Grobari Beograd e dividindo-se em uma série de subgrupos
menores.
Os primeiros ultras se organizaram ainda na década de 1950, basicamente
compostos de jovens dos distritos de Belgrado que se agrupavam no setor Sul do
estádio. Apoiando ininterruptamente o time durante as partidas, insultando
adversários e árbitros de forma constante e com forte inspiração no
hooliganismo inglês, a torcida cresceu rapidamente nos anos seguintes,
caracterizada pela agressividade nos jogos como visitantes e pela forte
rivalidade nos clássicos contra o Estrela Vermelha.
Apesar da rivalidade, muitos membros da Grobari fizeram parte da milícia
Tigres de Arkan, unidade paramilitar sérvia de forte atuação na Guerra da
Iugoslávia, composta majoritariamente de ultras do Estrela Vermelha.
Conflitos Internos
De atuação predominante entre os grandes grupos formados e contando com
o maior número de componentes, o Grobari 1970 sofreu seu primeiro
desmembramento em 1999. Acusando os líderes do grupo de abuso de privilégios e
favorecimento por parte de dirigentes do clube, uma parcela de torcedores deixou
a tradicional arquibancada Sul, passando a se concentrar no setor Norte do
estádio e formando o Juzni Front (“Frente Sul”, em sérvio). A
separação entre as torcidas perdurou até 2005.
Em 2011, uma nova disputa interna surgiu entre os ultras do Partizan.
Descontentes com as atitudes do Alcatraz, principal subgrupo do Grobari 1970 no
Setor Sul, alguns grupos menores, entre os quais Young Boys, South Family,
Vandal Boys, Koalicija, Fontana, parte do Juzni Front e, principalmente, a
Grobari Beograd se aliaram para formar uma nova força interna.
Sob a acusação de que alguns líderes do Alcatraz estariam superfaturando
os ingressos recebidos da diretoria que deveriam ser repassados aos demais
torcedores e cooperando com as ações da polícia e da diretoria para barrar
alguns agrupamentos, essa corrente se autodenominou Zabranjeni, ou
“Proibidos” em sérvio, em referência ao impedimento de sua entrada nos
estádios. Além disso, alegam que algumas das principais lideranças do Alcatraz
seriam ex-membros de ultras do rival Estrela Vermelha.
Um desses líderes é Milos Radisavljevic Kimi, conhecido simplesmente
como “Kimi”, responsável pela tomada de faixa do capitão do time na última
semana. De acordo com a lei do país, que considera invasão de campo um delito,
Kimi ficaria sujeito à detenção de 30 a 60 dias e multa de até 150,000 dinares.
Estreitamente ligado à direção do clube e com forte atuação nos
bastidores, dias após o episódio o clube organizou uma coletiva com a presença
do ultra e do capitão Marko Šćepović, onde ambos declararam que a faixa não
“tirada”, mas “entregue” pelo jovem atacante ao líder do Alcatraz.
Boicote
Outra ação dos ultras ganhou os noticiários em 2005. Insatisfeitos com a
eliminação do clube nas preliminares da Liga dos Campeões e com o fraco início
no campeonato nacional, os ultras resolveram boicotar as partidas do Partizan
até que algumas de suas reivindicações, entre elas a demissão de parte da
diretoria, fossem atendidas.
Foram quase dois anos fora dos estádios, com inúmeros protestos em
frente à cancha durante todas as partidas, incluindo a ausência no “Dérbi
Eterno” durante a temporada, em protesto encerrado apenas em 2007.
Com o lema “Voz e Palmas”, os ultras do Partizan são responsáveis por
algumas demonstrações fantásticas de fanatismo não apenas no futebol, mas nas
partidas do clube de basquete e hóquei no gelo. Uma verdadeira aula do significado
de “torcer”.
Clube: Partizan
(SER)
Principal Torcida: Grobari Jug (subdivida em Južni Front, Grobari
1970 e Zabranjeni)
Sede: Belgrado (SER)
Fundação: anos 1950
Confira alguns vídeos que demonstram o fanatismo e a magia de torcer ao
lado dos sérvios: