quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

"Isso é Torcer" IV

Uma cena que chamou a atenção há alguns anos: os ultras do Partizan, da Sérvia, ganharam os noticiários com o vídeo de seu líder “Kimi” invadindo o campo para retirar a braçadeira do capitão do time após a eliminação do clube sérvio para o Ludogorets Razgrad (BUL), ainda na terceira eliminatória da Liga dos Campeões da Europa: 




Reconhecidamente fervorosos, os torcedores sérvios contam com uma particularidade dentro dos estádios: a explosiva junção da paixão ligada ao futebol com a paixão ligada ao forte sentimento nacionalista. Dentro desse contexto, o Partizan foi ofuscado em parte de sua história pela superioridade e maior reconhecimento do rival Estrela Vermelha. A paixão e violência dos ultras do arquirrival, fortemente ligados ao processo de desmembramento da antiga Iugoslávia, tornaram-se ainda mais conhecidas com a publicação do livro “Como o Futebol Explica o Mundo”, do jornalista norte-americano Franklin Foer.

A fama do Estrela Vermelha ofuscou parte do fanatismo dos ultras do Partizan, mas o clássico entre ambos, chamado de “Derby Eterno”, ainda exemplifica bem a devoção dos ultras alvinegros de Belgrado, famosos pelo fanatismo e pela violência contra torcidas adversárias. Segundo clube mais popular da Sérvia, o Partizan possui um grande número de torcedores também em Montenegro, Bósnia e Croácia, além de outros países europeus com número significativo de sérvios.

Torcida
Em geral, os ultras do Partizan são chamados de Grobari Jug, ou Coveiros da Sul. O apelido é uma junção da alcunha dada pelos rivais graças à semelhança do nome da rua onde se localizam os torcedores do clube antes das partidas no estádio Partizan à palavra enterro, que de forma pejorativa passou a ser adotada pelos torcedores, e o setor onde tradicionalmente os ultras ficam concentrados no estádio.

É importante ressaltar, entretanto, que os ultras não compõem uma única organização, sendo agrupados em três principais frentes atualmente: Juzni Front, Grobari 1970 e Grobari Beograd e dividindo-se em uma série de subgrupos menores.

Os primeiros ultras se organizaram ainda na década de 1950, basicamente compostos de jovens dos distritos de Belgrado que se agrupavam no setor Sul do estádio. Apoiando ininterruptamente o time durante as partidas, insultando adversários e árbitros de forma constante e com forte inspiração no hooliganismo inglês, a torcida cresceu rapidamente nos anos seguintes, caracterizada pela agressividade nos jogos como visitantes e pela forte rivalidade nos clássicos contra o Estrela Vermelha.

Apesar da rivalidade, muitos membros da Grobari fizeram parte da milícia Tigres de Arkan, unidade paramilitar sérvia de forte atuação na Guerra da Iugoslávia, composta majoritariamente de ultras do Estrela Vermelha.

Conflitos Internos
De atuação predominante entre os grandes grupos formados e contando com o maior número de componentes, o Grobari 1970 sofreu seu primeiro desmembramento em 1999. Acusando os líderes do grupo de abuso de privilégios e favorecimento por parte de dirigentes do clube, uma parcela de torcedores deixou a tradicional arquibancada Sul, passando a se concentrar no setor Norte do estádio e formando o Juzni Front (“Frente Sul”, em sérvio). A separação entre as torcidas perdurou até 2005.

Em 2011, uma nova disputa interna surgiu entre os ultras do Partizan. Descontentes com as atitudes do Alcatraz, principal subgrupo do Grobari 1970 no Setor Sul, alguns grupos menores, entre os quais Young Boys, South Family, Vandal Boys, Koalicija, Fontana, parte do Juzni Front e, principalmente, a Grobari Beograd se aliaram para formar uma nova força interna.

Sob a acusação de que alguns líderes do Alcatraz estariam superfaturando os ingressos recebidos da diretoria que deveriam ser repassados aos demais torcedores e cooperando com as ações da polícia e da diretoria para barrar alguns agrupamentos, essa corrente se autodenominou Zabranjeni, ou “Proibidos” em sérvio, em referência ao impedimento de sua entrada nos estádios. Além disso, alegam que algumas das principais lideranças do Alcatraz seriam ex-membros de ultras do rival Estrela Vermelha.

Um desses líderes é Milos Radisavljevic Kimi, conhecido simplesmente como “Kimi”, responsável pela tomada de faixa do capitão do time na última semana. De acordo com a lei do país, que considera invasão de campo um delito, Kimi ficaria sujeito à detenção de 30 a 60 dias e multa de até 150,000 dinares.

Estreitamente ligado à direção do clube e com forte atuação nos bastidores, dias após o episódio o clube organizou uma coletiva com a presença do ultra e do capitão Marko Šćepović, onde ambos declararam que a faixa não “tirada”, mas “entregue” pelo jovem atacante ao líder do Alcatraz.

Boicote
Outra ação dos ultras ganhou os noticiários em 2005. Insatisfeitos com a eliminação do clube nas preliminares da Liga dos Campeões e com o fraco início no campeonato nacional, os ultras resolveram boicotar as partidas do Partizan até que algumas de suas reivindicações, entre elas a demissão de parte da diretoria, fossem atendidas.

Foram quase dois anos fora dos estádios, com inúmeros protestos em frente à cancha durante todas as partidas, incluindo a ausência no “Dérbi Eterno” durante a temporada, em protesto encerrado apenas em 2007.

Com o lema “Voz e Palmas”, os ultras do Partizan são responsáveis por algumas demonstrações fantásticas de fanatismo não apenas no futebol, mas nas partidas do clube de basquete e hóquei no gelo. Uma verdadeira aula do significado de “torcer”.

Clube: Partizan (SER)
Principal Torcida: Grobari Jug (subdivida em Južni Front, Grobari 1970 e Zabranjeni)
Sede: Belgrado (SER)
Fundação: anos 1950


Confira alguns vídeos que demonstram o fanatismo e a magia de torcer ao lado dos sérvios:






quarta-feira, 6 de maio de 2015

"Isso é Torcer" III

Se a bola rola em todo o canto do mundo, o fanatismo e a paixão não ficam atrás, acompanhando o futebol em qualquer lugar. O blog “Torcedor de Bancada” traz hoje um exemplo do fanatismo em campos israelenses, com a torcida do Maccabi Netanya F.C.:



Com cerca de 200 mil habitantes, Netanya está entre as cidades mais populosas de Israel. Ainda que seja considerada a “cidade do esporte”, como parte do programa lançado pela administração municipal, o futebol esteve longe dos tempos vitoriosos nas últimas décadas.

Três times disputam a hegemonia local: Maccabi Netanya F.C., Maccabi HaSharon Netanya e Beitar Nes Tubruk Netanya, sendo que o primeiro é único a ter alcançado o topo do futebol nacional, conquistando a primeira divisão de israelense em cinco oportunidades, todos eles entre os já distantes anos de 1970 e 1982.

De lá para cá, os Diamantes estiveram perto do título outras três vezes, terminando a Premier League com o vice-campeonato. Pior: amargaram o rebaixamento em outras três oportunidades.

Nem a sequência de decepções foi suficiente para afastar os fãs. Fundada em 2009, o Diamond Army (Exército Diamante) tornou-se uma das torcidas mais reconhecidas pelo apoio e pela vibração nas arquibancadas, independente do nível de disputa do clube.

Clube: Maccabi Netanya F.C.
Principal Torcida: DA09 (Diamonds Army)
Sede: Netanya (ISR)

Fundação: 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2015

"Isso é Torcer" II

Exemplos do verdadeiro sentido da palavra torcer (ou “supporter”, em inglês), não faltam ao redor do mundo. Se na última semana, falamos do exemplo do clube argentinoSan Miguel, agora é a vez do Velho Continente. Paixão e fanatismo, mesmo nos níveis competitivos mais baixos podem ser encontrados em todo o continente. O blog “Torcedor de Bancada” encontrou esse vídeo do ASU Politehnica Timisoara, da Romênia:



Terceira maior cidade romena, Timișoara tem uma longa tradição no futebol local. São 10 títulos nacionais conquistados até hoje, todos até a década de 1930, mas ao mesmo tempo a cidade lida com altos e baixos que faz com que boa parte dos seus clubes feche as portas por motivos financeiros. Casos de CAM, Chinezul, Ripensia e, o mais famoso deles, Politehnica Timișoara. Fundado em 1921 e com 50 participações na primeira divisão nacional, o clube que chegou a disputar a Liga dos Campões há seis anos, foi dissolvido em 2012 após ser rebaixado e não cumprir os requisitos mínimos para obter a licença para a temporada seguinte.

Aproveitando a quebra do rival, o ACS Recaș mudou-se para Timișoara, alterou seu nome para ACS Poli Timișoara, assumiu boa parte do espólio e dos investimentos e estrutura antigo detentor da marca e ficou com a vaga na Liga I romena. Mesmo com pouco sucesso, manteve a posição de principal clube da cidade.

Como sempre fica à mostra, entretanto, paixão por um clube é algo que não se compra ou mesmo se escolhe. Sem seu antigo time, mas também insatisfeitos com os privilégios dados a um clube de outra cidade e sem história local, a maior parte da mídia, empresariado e torcedores optou por migrar seus esforços para o SS Politehnica, time apoiado pelo Instituto Politécnico, que também dera origem ao antigo clube e disputava a quinta divisão.

Campeão da Liga V em 2013, vice da Liga IV em 2014 (ainda que sem obter a promoção), o ASU Politehnica Timisoara faz campanha irrepreensível na atual temporada, com 24 triunfos em 22 partidas e 2 empates, além de 83 gols marcados e apenas 19 sofridos, brigando ponto a ponto pelo acesso ao terceiro nível com o rival local Ripensia (tetracampeão nacional na década de 1930 e refundado em 2012).

Mais do que o desempenho, títulos, vitórias ou situação atual, fascina o apoio incondicional e a incrível amostra dada pelos torcedores. Quando na primeira divisão, ainda em apoio à antiga agremiação, foram responsáveis por colocar o time no topo das melhores médias nacionais em oito dos últimos quinze anos. Hoje, fazem a festa na quarta divisão nacional!

É ou não é uma lição de como torcer de fato por um clube?!

Clube: Societatea Sportiva Politehnica Timișoara
Principais Torcidas: Commando Viola Ultra Curva Sud (CVUCS), Druckeria e Peluza Sud
Sede: Timișoara (ROM)
Fundação: 2012


quinta-feira, 9 de abril de 2015

"Isso é torcer" I

Como o próprio nome deixa claro, o blog “Torcedor de Bancada” tem como objetivo principal trazer as experiências e características daquele que realmente pode se considerar um torcedor. O mesmo que se faz presente ao estádio, sempre, em qualquer situação, momento e sob qualquer dificuldade.

Alguns exemplos deixam claro como nós, brasileiros, precisamos repensar nosso modo de torcer. Vejam esse vídeo de uma partida do San Miguel, da Argentina:



El Trueno Verde” disputa a “Primera C”, o equivalente a quarta divisão do futebol argentino (!). Alguns detalhes: o time esteve na quinta divisão na última temporada (!!), está em 11º lugar no torneio atual (!!!) e nunca disputou a divisão de elite do futebol portenho, à despeito de mais de 90 anos de histórias somados (!!!!).

É ou não é uma lição de como torcer de fato por um clube?!

Clube: Club Atlético San Miguel (C.A.S.M.)
Principal Torcida: La Gloriosa Banda de San Miguel
Sede: Los Polvorines (ARG)

Fundação: 07/08/1922

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

De volta ao combate

Quase um mês distante dos estádios, o retorno ao Pacaembu tinha tudo para ser marcado com uma goleada sobre o frágil América, do Rio Grande do Norte. Era um triunfo que ampliaria a boa fase do clube e aumentaria ainda mais nossa vantagem na ponta e tornaria ainda mais próximo o fim do inferno que é a Série B.

Era. Por que em se tratando de Palmeiras quase nenhum resultado pode nos surpreender. Criamos mais, mas paramos em finalizações que quase nunca ameaçaram realmente o gol adversário. Em contrapartida, por muito pouco (e muito Prass) não saímos de casa derrotados.

A vantagem é grande. O acesso questão de tempo. Assim como o título, que pouco ou nada nos acrescenta. A missão tem de ser voltar e preparar o time para o ano do centenário. E que seja um ano marcado por glórias, honras e títulos. Além de comemorações, obviamente.

Mas que dava pra marcar o meu retorno com três pontos, ah isso dava!

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Não se sabe ainda o local dos duelos contra Figueirense e Guaratinguetá. Obviamente que, jogando contra CBF, STJD, Globo e todos os adversários possíveis, não nos deixariam passar incólumes dessa briga entre Mancha e TUP.

A questão agora é qual será o local escolhido pela direção palestrina para os duelos. É justo que ambos sejam o mais perto possível dentro do que a punição permita para possibilitar a ida dos torcedores paulistanos. É vital para manter o bom momento do time. E também nos afastar de locais que já provaram ser inúteis, como Presidente Prudente, Ribeirão Preto, etc...


E não me venham com esse papo de Campo Grande, por favor...





quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Retomada

E começou a caminhada rumo ao título da Copa do Brasil. Um torneio traiçoeiro, como nossos rivais puderam sentir na noite de ontem. Mas onde temos a obrigação de depositarmos todas as nossas fichas, já que é nossa única chance de alcançarmos a Libertadores no ano do centenário. E a estreia foi boa.

Ainda que pudéssemos largar com uma vantagem um tanto quanto mais larga, dada a quantidade de chances desperdiçadas, um triunfo mínimo foi o que a noite de ontem nos reservou. Vitória importante e que pode fazer toda a diferença se conseguirmos um gol fora na próxima semana, em Curitiba. Reflexos de um regulamento estúpido que privilegia os gols fora de casa.

Sigamos em frente que agora nossa batalha será dividida entre garantir o retorno ao topo o mais rápido possível, missão que devemos cumprir com relativa facilidade, para então nos focarmos no que realmente importa: enfileirar taças. E taças de torneios de elite, dignos de Palmeiras.

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Obviamente o horário das 19h30 é ingrato e formulado por bastardos que nunca puseram os pés em uma cancha (ou há um bom tempo não o fazem e perderam o espírito da mesma). Mas pouco mais de 20 mil pessoas para um jogo eliminatório da Copa do Brasil faz por merecer a pergunta: cadê o bando de filhodaputa que defende o preço do ingresso mais caro para “privilegiar” o sócio-torcedor? Por que muitos torcedores de bancada ontem ficaram sem ingresso. Mas os espaços vazios tomaram conta do estádio. Algo está errado nessa fórmula, não?!




domingo, 18 de agosto de 2013

Épico

25 minutos do segundo tempo. Jogo em casa. Fraca atuação e dois gols de desvantagem no placar. O que vem à sua cabeça nesse momento? Milhares de possibilidades. Mas para um torcedor, torcedor de verdade mesmo, uma opção jamais será considerada: parar de cantar, vibrar e apoiar.

Foi o que fizemos ontem, no Pacaembu. Não sei o que cada um dos torcedores presentes que continuou vibrando acreditava, mas eu pensei “já estamos aqui, meu time é líder do campeonato, então continuo dando meu apoio, seja na vitória, seja na derrota. O empate? Pode ser que não venha, mas e daí? A vitória? Bom, bora cantar...”

E ontem foi daqueles jogos que mostrou por que futebol é futebol. Por que o Palmeiras é e sempre será o Palmeiras. E por que os outros times (Paysandu aí incluso) serão sempre os outros.

Times que jogam retrancados são e sempre serão uma constante contra um grande. E essa atitude por si só já os definem como devem ser: pequenos. Indignos de fazer frente ao Palestra.

Saímos atrás, jogamos mal, pouco criamos, tomamos mais um, mas quando todos já nos davam como mortos nos fizemos grandes de novo. Fizemos-nos Palmeiras. Como sempre deve ser.

Não é a liderança. Não será o título. Nem mesmo o acesso. Nada disso provará o nosso tamanho. São partidas, viradas e momentos como os de ontem que sempre deixarão claro para todos o tamanho e a grandeza do Palestra.

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Ficou a prova dos motivos pelos quais perder um duelo em casa, sob qualquer desculpa, é imperdoável. Foram 20 minutos de um total de 90 que valeram não só por cada minuto em cada um dos estádios da Série B, não só pela presença em partidas como a contra o Atlético-GO na última rodada de 2012, com o Palestra já rebaixado. Valeram por cada segundo que me fiz presente em qualquer cancha onde o Palmeiras estivesse presente. Valeram por cada decepção. Por cada tristeza.


Por que, afinal, torcer é sofrer e se decepcionar em 99% do tempo, não? A esperança e o alento são sempre pequenas alegrias como as vistas ontem, no Pacaembu. E são justamente elas que nos fazem estar presente em cada uma de todas as partidas do Palmeiras. Sempre!